quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

http://culturascopio.com/2009/12/16/rita-carvalho-marques-o-bom-exemplo-de-uma-artista-estrategicamente-criativa/


Numa altura em que os criadores necessitam de conhecer bem o seu mercado e acabar com a ideia utópica de que as suas criações não são dirigidas a consumidores, Rita Carvalho Marques, uma designer de jóias reconhecida no meio, dá o bom exemplo de como as peças não devem ser apenas criativamente sustentáveis. E não é por isso que deixam de ser… deslumbrantes.

Culturascópio: É uma designer de jóias com um estilo marcado?
R. C. M.: É um pouco complicado definir um “estilo”… Posso dizer que tenho elementos de inspiração muito marcados, sobretudo os anos 20 e as suas repercussões no mobiliário, na arquitectura e na joalharia. Gosto, acima de tudo, de criar objectos versáteis, que possam ser usados em várias ocasiões e por pessoas de gerações diferentes.

No processo de criação, privilegia a componente comercial ou emocional? Faz aquilo de que gostaria de usar ou o que poderá ir ao encontro da expectativas do público?
Não consigo fazer nada de que não goste ou não usaria. Claro que tenho de pensar no meu público-alvo, mas o mais importante é tentar criar uma peça que seja emocionalmente comercial. É quase um “defeito de fabrico”. Depois de artista fui muitos anos comercial e agora sou ambas. O que faço normalmente é desenhar as peças de que gosto e depois olhar para elas de forma comercial… Mas confesso que nunca alterei uma peça em função disso.

Privilegia materiais nobres. Porquê?
É o meu posicionamento no mercado da joalharia. Há muitos criadores a fazerem peças interessantíssimas em vários materiais, resultando em felizes conjugações, mas, no meu caso, apenas trabalho com materiais nobres. Acho que nesse registo continua a haver, infelizmente, peças feitas de forma muito industrial e comercial.
É uma pergunta cliché, mas que define muito os criadores… O que a inspira?
Nada me é indiferente. Quando vejo uma boa fotografia de moda, uma peça de design, um belíssimo edifício….tudo poderá ser tema para mais cedo ou mais tarde se tornar numa peça de joalharia. Enfim, não são só os homens e as mulheres deste mundo… São os meus amigos, a família e a natureza.

A sua nova colecção, que apresentou há pouco tempo, tem um conceito muito específico. De que trata?
O tema é o tempo. O tempo nas suas várias vertentes: o tempo como “falta de tempo que temos hoje em dia”; o tempo como “os velhinhos no jardim a passar o tempo a jogar dominó”; o tempo como correntes artísticas, passando pelo naturalismo, o romantismo, a Art Déco, o plasticismo, entre outras. É a continuação do registo que tinha usado na minha primeira colecção e cujo tema achei que deveria continuar a explorar.

Uma peça de jóias pode ser consideravelmente mais cara do que uma peça de roupa do dia-a-dia. Por que vale a pena investir numa jóia?
Bom, essa é fácil, porque enquanto usamos uma peça de roupa durante algum tempo, uma jóia faz parte da história que construímos. Da nossa vida! Passará de gerações em gerações da mesma forma ou com algumas variações caso as pessoas optem por alterá-la ou reciclá-la.
Uma jóia é uma imagem de marca. Falo no caso das minhas peças que apenas são reproduzidas apenas 10 vezes. Depois não há mais peças iguais. São quase exclusivas e únicas.

Representa um estilo de vida, uma emoção que poderá perdurar?…
Sem dúvida. Uma peça passará por várias gerações e será utilizada em várias ocasiões. A minha ideia é mesmo essa – criar peças que possamos usar com uns jeans e uma t-shirt branca ou com um vestido comprido, representando a versatilidade no tempo presente e no tempo futuro.
Hoje não podemos comprar 30.000 jóias boas. Por isso, as que compremos que sejam vividas. Muitas eram as jóias das nossas avós que só poderiam ser postas em ocasiões muito especiais. Hoje já não há ocasiões. Tudo é mais simplificado. Daí a necessidade de peças autênticas.
Quando é que se apercebeu de que a joalharia iria fazer parte da sua vida?
Muito cedo, acho que todas as raparigas gostam de jóias.
O curso de Design Industrial deu-me a noção de que teria de criar peças que fossem ergonomicamente confortáveis para quem as usa. A pós-graduação em Joalharia “aguçou” o meu desejo por criar jóias esteticamente atraentes para o público em geral. Por fim, e sem menos importância, a pós-graduação em Direcção Comercial alertou-me para o facto de que a minha ideia tinha que ser sustentável não só criativamente. Tive de ser criativamente inteligente para saber posicionar o meu produto, criar estratégias e estabelecer objectivos.


Como conjuga esta faceta de artista com a profissão do seu dia-a-dia?
Aí está um grande desafio para 2010, ano em que vou passar a dedicar-me apenas a este projecto. Acho que chegou a altura de dar à joalharia a importância que merece.
É por isso que vou criar o meu próprio atelier e showroom. Será um espaço onde tudo será feito ali mesmo: a criação, a concepção, a reciclagem, etc. Será um espaço onde as pessoas poderão ver as minhas peças e adquiri-las, assistir a palestras, participar em workshops, enfim….será um laboratório de joalharia onde tudo poderá acontecer! Estive até agora apenas de forma amadora e já deu os frutos que deu. Agora, o céu será o limite.

Rita Carvalho Marques terá um espaço aberto ao público a partir de Fevereiro. Até lá, as suas jóias estão à venda no seu site – durante o Natal, a criadora tem uma campanha com 40% de desconto em algumas peças. Aproveitem!
Site: http://www.ritacm.com/ Blogue: http://ritacmarques.blogspot.com